O que é personalidade?
Conta- se que, nos alfarrábios de Leandro da Vinci, onde ele escrevia suas lucubrações, vez por outra encontrava-se uma frase perdida: “Scrivi, Leonarda, Che cosa è anima?”. Essa insistência do grande homem em perguntar-se “o que era a alma”, tem sido interpretada como ato de contrição individual, humilde da sabedoria perplexa diante de si mesma, pois nada há mais triste do que ser homem e não se saber o que é o homem.
Muita perplexidade perdura na ciência, diante do problema da personalidade, embora já existia uma Psicologia da Personalidade, que estuda a substância, a estrutura e o desenvolvimento da vida psíquica do indivíduo.
Duas correntes procuram equacionar a personalidade: a primeira considera personalidade atributo, e a Segunda, relação. De acordo com a primeira concepção, define-se personalidade como o produto das disposições naturais, das inclinações hereditárias, das influências psicofísicas do ambiente, da educação, com a ajuda da própria vontade. Para a Segunda corrente, personalidade é a reação do indivíduo ao papel que lhe é imposto pelo grupo.
Na personalidade - atributo, a Comunicação humana é decisiva. Ninguém é inteligente para uso interno. As faculdades intelectuais precisam aparecer, comunicar-se. Criaturas amargas consideram-se injustiçadas “por não lhes serem reconhecidas qualidades que dizem possuir”. Na maioria das vezes, essas pessoas pensam ter qualidades; a avaliação individual é feita com exagero. Há, entretanto, casos em que a ausência de Comunicação humana impossibilita que importa na vida social e na realização individual. A personalidade não apenas depende da Comunicação humana; ela é a própria Comunicação humana em ação: somos aquilo que comunicamos.
Na personalidade - relação, reação do indivíduo ao papel que lhe é imposto pelo grupo, essa resposta é essencialmente comunicativa, isto é, reagiremos de determinada forma, e essa forma, seja ela qual for, será sempre uma Comunicação humana: “Falamos sobre personalidade como expressão psicológica individual, embora, na maioria das vezes, a personalidade seja como um equivalente da auréola social do indivíduo, a espécie de impacto que a projeção da individualidade causa nos outros”.
Tudo quanto revela a personalidade pertence à Comunicação humana.
Caracterologia
Na Caracterologia, os critérios da avaliação diferem do autor para autor.Para Jung são dois os tipos básicos de personalidade: extrovertidos e introvertidos – conforme os indivíduos atribuam mais importância à vida sócia, (externa), ou à vida íntima, (interna). Para o extrovertido, tem mais valor tudo quanto venha de fora, enquanto para o introvertido os valores humanos repousam dentro do indivíduo e é a sua vida interna que vale.
Spranger baseou-se no critério dos valores espirituais predominante, classificando os homens em quatro tipos fundamentais:
1. Tipo econômico – para quem importam mais os valores econômicos.
2. O tipo religioso – toda sua tendência é para o misticismo e a religiosidade.
3. O tipo estético – cuja escala de valores está em íntima ligação com a arte, a beleza, etc.
4. O tipo social – que se aproxima do extrovertido de Jung, por viver “virado para fora”.
Essa classificação de Spranger é adotada por Erich Fromm, o qual introduz, como novidade, o homem de orientação mercantil, para quem o importante não é “ser” e sim, “parecer ser”.
Bem conhecida é a Caracterologia de Kretschmer. Classificam-se os tipos humanos em pícnicos (gordos), leptosomas (magros) e atléticos (fortes). Kretschemer baseia-se nos padrões da biotipologia popular, no folclore de todas as nações: o diabo sempre foi magro, e Momo não podia deixar de ser gordo.
Sharpin e Uris fazem do trabalho a base da classificação dos tipos humanos:
1. Obstinado- diz sempre “não”, dificilmente muda seus pontos de vista; é o homem considerado “duro”.
2. Vagaroso – é o ruminante por natureza; custa a começar as coisas, e raramente se entusiasma.
3. Sensível – leva tudo para o lado pessoal; o mundo gravita em torno de sua sensibilidade.
4. Tímido – caracteriza- se pela pouca iniciativa, esmaga-se com qualquer crítica.
5. Ousado – é convencido, o discutidor, o entusiasmado.
As classificações dos psicólogos são as mais possíveis. Desde Aristóteles, com os tipos nobre, covarde, desconfiado, etc., os critérios raramente coincidem. São os integrados e os desintegrados, de Jaensch, os especulativos, artísticos, ativos, de Bechterev, os causadilhos, santos e heróis, de Max Scheller até os respiratórios, musculares, digestivos e cerebrais, da Escola Francesa.
Todas essa classificações deixam de pé o velho problema do conhecimento da personalidade. Os comportamentistas procuram uma solução, através da observação dos sinais exteriores da personalidade, por meio da Comunicação humana.
“O corpo e seus fenômenos”- escreveu Gandhi – “representam veículo para a expressão da personalidade”. Pensamentos, desejos e sentimentos manifestam-se não apenas como pensamentos conscientes, mas, também, como ações e reações, movimentos e gestos expressivos.
Todo indivíduo se põe inteiro nas suas ações, e interpretando-as, avaliando-as, podemos receber a projeção da sua personalidade.
A personalidade comunica-se no trabalho, onde podemos verificar se o indivíduo é dinâmico, débil, apático, concentrado, reflexivo, seguro, perseverante, etc.
Algumas empresa entregam questionários aos seus supervisores, solicitando-lhe observar seus subordinados no trabalho:
1. O que impele a trabalhar?
2. Ao iniciar uma tarefa, costuma traça os seus próprios planos, ou prefere ser conduzido?
3. O esforço do trabalho produz-lhe alegria ou desgosto?
4. Que fatores estorvam ou apresentam seu trabalho?
5. Perante as dificuldades, capitula ou persevera?
6. Como enfrenta o imprevisto?
No trabalho, a personalidade comunica-se com mais autenticidade, e o
Comportamentismo baseia-se na convicção de existir ligação muito forte entre o comportamento externo e a vida interior da criatura humana; o homem em ação entrega-se à sua verdadeira natureza e descobre o seu verdadeiro “Eu”.
Como vimos nos outros tópicos, basicamente nossas emoções acontecem em três níveis cerebrais.
Em outros tempos acreditava-se que os indivíduos que tinham um QI auto é que eram os que obteriam maior sucesso na sociedade, hoje chegou-se a conclusão que não é só isso que determina a inteligência emocional que é o auto conhecimento de todas as emoções causas e efeitos de acordo com sua personalidade eainda o equilibrio entre as tres forças que influenciam nossa vida a racional, a intuitiva e a instintiva.
Projeção da personalidade
1.Maneira de vestir
Os tipos populares revelam seus desequilíbrios pela maneira de vestir. É comum vê-los com o peito coberto de “medalhas”, envergando chapéus de papel de jornal, com a desenvoltura de embaixadores em recepções solenes. Vestem-se dessa maneira, porque julgam-se generais e almirante, orgulham-se dessas medalhas e crachás, como se fossem verdadeiros e não fazem mais do que projetar a personalidade, que pretendem ter, através do recurso da indumentária.
O homem de veste como deseja ser, o que explica os moços austeramente vestidos, e os velhos trajados com leveza e colorido.
Os americanos acreditam que a personalidade de um homem se revela padrão da gravata, enquanto os italianos afirmam que basta na maneira como fazem o nó. Todos os povos têm trajes típicos que revelam aspectos da psicologia nacional. O chapéu imenso dos mexicanos não contituirá afronta e abrigo, projetando uma personalidade onde audácia andam de mão dadas? Não se percebe na espetaculosidade do traje gaúcho, o sangue espanhol atrevido e fanfarrão? O vaqueiro nordestino veste-se de couro para enfrentar as caatingas, e para revelar dureza. A pudicícia das solteironas transparece nas blusas de gola alta, e todo um manual de Psicologia das religiões poderia ser escrito, acompanhando-se a evolução da batina surrada do vigário sertanejo às vestes de arminho dos arcebispos.
A roupa faz parte da personalidade e, muitas vezes, o indivíduo acaba integrando-se no traje que veste, como acontece com os militares. Fenômeno idêntico vem sendo observado nos Estados Unidos, em certas profissões, onde uma consciência de classe é adquirida através da identidade do traje. Muitas fábricas procuram chegar ao “espírito de equipe”, através do uniforme, e Donald Laird conta caso curiosos de aumento de produtividade industrial com conseqüência direta na melhoria da apresentação de tajes de operárias. Reconhece-se a categoria do hotel pela maneira de apresentar-se do porteiro, so restaurante, pelo “smoking”do “maître”,da empresa de ônibus, pelo uniforme do motorista.
O homem revela-se com as modificações que introduz na sua maneira de vestir. Chapéu e colete são tentativas de projeção de personalidade madura, em contrapartida às camisas e aos “shorts”multicores, possíveis responsáveis pela fama de imaturidade dos norte-americanos. Não teriam sido os excessos de cosméticos e perfumes os responsáveis pelo “clichê”universal da francesa? Repare-se na palheta do “Zé Carioca” revelando ao mundo o “espírito”brasileiro, foma vulgar de imediatismo.
A roupa ajuda a fixar as primeiras impressões. Mesmo errôneas, as primeiras impressões costumam gravar-se indeléveis no espírito. Por essa razão, todo manual de vendas recomenda o apuro no vestir com condição de sucesso. Outros vão mais longe: fazem da indumentária condição de sucesso na vida.
Observam os psicólogos que, na maioria das vezes, vestimo-nos como “gostaríamos de ser”, e não como somos. Ao vestirmo-nos revelamos alguns aspectos de nossa personalidade e, por isso, a indumentária e a forma de enverga-la constituem elementos de Comunicação humana; podem contribuir para a sua autenticidade.
- Sou um homem simples!
Esta afirmação poderá ser desmentida pela cor das meias, pelas abotoaduras da camisa, ou pelo corte do terno.
Ao escolher e comprar uma roupa, o homem revela o grau de civilização, os valores de sua ética individual, sentimentos, fantasias e gosto pessoal. Muitos balconistas de loja de departamento desenvolvem notáveis conhecimentos empíricos sobre a personalidade individual, através da observação que lhes faculta a profissão que exercem. Mesmo depois que a indústria de roupas feitas reduzir a importância dos alfaiates, a multiplicidade dos cortes, os ajustes obrigatórios e um sem-número de detalhes, contribuem para fazer do traje individual.
Há os que se vestem com franqueza, como há os que se vestes dissimuladamente, há os cuidadosos e os negligentes, os humildes e os vaidosos, os puritanos e os libertinos. Montaigne, por exemplo, não se conformava com o talhe das calças masculinas da sua época, o qual, em seu lugar de esconder, dava relevo à forma do sexo; atribuía a esse fato, na época de Luís XIV, com a exibição dos seios das damas da corte.
1.Maneira de andar
O presidente da companhia ouviu passos no corredor. Mandou chamar a secretária:
- Quem foi que passou por ai?
Instantes depois, ela volta:
- Um moço que trabalha na contabilidade...
- Quero conhece-lo!
Foi assim que Stanley C. Allyn começou a subir na National Cash Register Co. e vinte e poucos anos mais tarde sentava-se na cadeira do presidente que o quisera conhecer por Ter ouvido seus passos:
- Um moço que anda como você, tem que ser alguma coisa na vida!
A maneira de andar identifica-se com a pessoa, a ponto de podermos reconhecer amigos e familiares, apenas ouvido seus passos.
Peter Ciklic relaciona maneiras de andar que, para ele, revelam traços primários da personalidade:
Andar pouco vivo e lento – temperamento fleumático.
Andar vivo e inquieto – temperamento colérico e bilioso.
Andar pesado, de quem mal levanta os pés do chão – tristeza, depressão, pessimismo.
Andar tropeçando – medo.
Andar firme, passos largos – vontade firme e energia.
Andar leve e débil – fraqueza.
Andar afetado, quando os joelhos se levantam em excesso – orgulho.
Andar simétrico em demasia – mediocridade.
No Brasil, comparam-se as mentalidades de São Paulo e Rio de Janeiro, através da maneira de andar de paulistas e cariocas.
O melhor meio de andar é com ombros, tronco e cadeiras formando linha reta, a cabeça ligeiramente para trás, os braços balançando ligeiramente e os pés retos, avançando bem adiante do resto da pessoa.
2. Outra formas de projeção da personalidade
“Os olhos são os espelho da alma” , e até hoje, a maneira das pessoas tem prevenção contra quem, ao conversar , não fixa o interlocutor. Por menos científica que seja a convicção, continua-se atribuir maus sentimentos a quem não nos olha de frente.
Morder as unhas é sinal de nervosismo e pode ser manifestação de sovinice.
- É tão miserável que rói as unhas!
A maneira de cumprimentar contribui para a projeção de certos traços da personalidade. A mão toda aberta demonstra desconfiança, um aperto de mão é franco e cordial. Andar de punhos cerrados revela obstinação, e têm rugas entre os olhos as pessoas enérgicas e decididas. Cera vez, o Presidente Lincoln, depois de receber determinado visitante, chamou seu secretário e recomendou-lhe:
- Não quero mais conversa com esse homem!
O secretário, surpreso com a atitude de Presidente, homem reconhecidamente tolerante, quis saber:
- Por que, presidente?
- Não gostei da cara dele!
- Mas, presidente... O pobre homem tem culpa da cara que tem?
A resposta de Lincoln foi incisiva:
- Depois dos quarenta anos, nós somos responsáveis pelo nosso rosto!
Basta algum senso de observação para concordar com Lincoln; a biografia individual vai sendo escrita nas rugas do rosto, à medida que o tempo passa. Alguns psicólogos afirmam que o rosto muda; basta rever os antigos retratos de diversas fases de nossa vida.
- Mas, sou eu mesmo?
A maneira de falar revela aspectos da nossa personalidade individual, seja pelas variações de voz, ou pela variedade de tons. Há modos de falar claros, convictos, confusos, obscuros, doces, suaves, ásperos, brutais, simpáticos, melodiosos, monótonos, antipáticos, repugnantes. Há pessoas que falam com paixão, enquanto outros são frios. Encontra-se o falar afetado nos dois extremos das categorias sociais, possivelmente motivado pelas mesmas razões de fatuidade. Uma voz entre dentes é dissimulada ou ameaçadora, como a voz bem articulada demonstra espírito precavido, prudente. Falar aos gritos demonstra franqueza extrema, ou extrema falta de educação, como a articulação vacilante – essa maneira de falar descontrolada, ora para cima, ora para baixo – revela emotividade.
A maneira de falar revela o homem. A preocupação em usar palavras inusitadas, ou frases arcaicas, de encontrar formas fraseológicas raras é sinal de satisfação intelectual consigo mesmo, de caráter ridículo e insuportável.